
É natural que esse homem tenha sido tocado pela finitude, pela insignificância, pela fragilidade. Esse homem reapareceu a cantar, gravou um disco. Tenho a impressão de que as pessoas não o terão percebido muito bem. Levei anos a dar entrevistas onde a última pergunta era sempre a mesma: «Acha que o fado vai acabar?». E eu respondia: «Enquanto houver quem toque e quem cante, o fado não morre.»
Foi muito natural querer fazer um disco de inéditos. Foi uma forma de dizer: «O velhinho está de volta, mas desculpem lá: sou inquieto, não estejam à espera que vá cantar outra vez a mesma coisa». Coisa que já não tem a ver com o projecto que tenho agora e que vou talvez executá-lo este ano: é com uma grande orquestra sinfónica, músicas tradicionais de grande peso e trabalhar nisso com poemas novos.
Fiz esta entrevista ao Carlos do Carmo há muitos anos. Incrível pensar que podia ser de ontem. Porque a inquietação manteve-se até ao fim, e cantar. E um disco novo.
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Por : Anabela Ribeiro